Para os mais jovens deve ser uma grande surpresa a afirmaçao de que a revista Superinteressante já foi séria. Sim, sim, eu nao estou brincando. Quem a conheceu pelos longínquos anos 90, sabe que ela já foi uma revista legal, nos moldes da Muy Interessante e da Scientific American, com temas inteligentes, antes que a mao pesada e imbecilizante da Editora Abril a destruisse para mais uma de suas “revistas de comportamento”.

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Para se ter idéia, as capas da primeiras ediçoes eram sobre dinossauros, supercondutores e Albert Einstein, com direito a matérias com quase 10 páginas ! E isso sem os “infográficos” que ocupam quase duas páginas por vez ! Hoje em dia uma breve busca de capas verá que os temas sao muito menos “cognitivos”, apelando mais para medo, ignorancia, cultura pop, com capas apelativas como: o budismo, o cristianismo, o espiritismo, o islamismo estimula a violencia ?, a Ciência explica a Deus ?, a realidade sobre o Código da Vinci, a Ciência do Super Homem, a Ciëncia de Harry Potter, e por aí vai.

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Na minha tese eu defendi que essa fase da imprensa atual, que somente rotaciona, como diz Mino Carta, entre cinco tipos de matérias pré-fabricadas: “o novo homem”, “a nova mulher”, “tecnologias do futuro”, “cuidado, o mundo está cheio de perigos” e “escandalo da semana”, está ligado às tecnologias de controle que Foucault chamou de Biopoder, mas isso sao outros quinhentos…

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Voltando à Vaca Fria, muuuuito tempo atrás a Superinteressante publicou uma matéria chamada 10 Argumentos contra a astrologia. Nao tenho a cópia em maos mais, entao vou ter que citar de memória.  Achei que seria interessante analisar essa matéria por dois motivos:

1 – existem conhecimentos e dúvidas que podem ser úteis aos iniciantes em astrologia.

2 – os argumentos, de natureza positivista, tem graves problemas epistemológicos/argumentativos, os quais a maioria das pessoas nao tem prática em identificar e reflexionar a respeito.

Entao aqui os 10 argumentos contra a astrologia, os quais responderei em breve. Mas gostaria de convidar ao leitor para se perguntar a cada um deles:

“Quais as premissas que estao ocultas nesse argumento ?”

  1. Se plutao (ou outro planeta) afeta o bebê no nascimento, porque o médico, que está muito mais próximo, nao afeta o indivíduo de maneira muito mais profunda ?
  2. Se esse planeta afeta o bebê, porque a influência nao depende da distância ? Planetas como plutao variam enormemente na distância até a Terra ao longo do ano.
  3. Por que outros corpos, como os satélites de televisao, nao influenciam no horóscopo ? Eles podem ser muito menores que os planetas mas estao muito mais próximos.
  4. Por que a data importante é o nascimento e nao a concepcao ?
  5.  Se o útero “protege” a criança da influência astrológica, seria possível proteger um adulto dessas influências usando um grande pedaço de bife ?
  6. Os signos nao estao onde os astrólogos dizem que estao. Na verdade, onde os astrólogos dizem que está o signo de câncer, por exemplo, está o signo de gêmeos.
  7. Se o Ascendente é tao importante, como se faz o horóscopo de lugares de latitudes muito altas, onde mais de uma constelaçao da ecliptica está visível ao mesmo tempo ?
  8. Se a astrologia é um conhecimento “sério”, como é que existem tantas linhas incompatíveis ? Depois de tantos séculos era de se esperar que houvesse uma confluência.
  9. Sabe-se que as pessoas concordam com absolutamente tudo que falam sobre elas. Um grupo muito grande de pessoas se identificou, quando pesquisada, com a descricao que foi feita para o mapa de um serial killer.

O décimo eu nao lembro agora, faz tempo.  Pode haver alguns pequenos erros nos outros, mas o espirito é esse. Como disse, escreverei minha resposta, do ponto de vista mais epistemológico que astrológico, em breve.

Uma pequena anedota para terminar. Uma vez escrevi uma carta para a Superinteressante criticando um artigo, feito por um desses psicologos de quinta categoria que sairam sabe lá deonde. Minha carta foi mais ou menos assim “A edicao numero tal de superinteressante foi muito boa com excecao da coluna de fulano de tal. O sr fulano cometeu os seguintes erros e tal e tal, e cita uma pesquisa que já foi desacreditada a muito, etc.”

Alguns meses depois, que surpresa a minha vendo minha carta publicada ! Só que no seguinte formato:

“Muito boa a edicao numero tal de superinteressante”

Ponto.

Jornalista brasileiro é mesmo uma raça burra e escrota, nao é verdade ? Se ia mutilar a carta, que custava simplesmente inventar uma puta carta elogiosa ? Quem vai saber que o Jé da Silva nao existe ? Se nao gostou da critica, porque simplemesnte nao ignorá-la ? Ele se achou mais inteligente por cortar as partes que nao gostou ?

Entao meu conselho pra quem escreve cartas pra redaçao de jornais e revistas: NUNCA COMECE COM UM ELOGIO !

🙂

Comments

  1. hahahahahahahaaaa

    Não começarei o comentário com um elogio, mas uma crítica! Não ao seu post, mas ao item número 8 da própria revista…

    Vc diz que ela foi séria… será que foi mesmo ou na época em que consideravam-na séria, as informações eram tão parcas que qualquer novo dado era considerado valioso por demais?!?!?!?

    Tem gente que respeito e guarda coleções antigas de super-interessantes, revista que na época era um atestado de cultura para o leitor…. mas sempre ficava me perguntando se isso não era uma novidade grande demais para duvidarmos da coerência de seus editores….

    Mas depois dessa manipulação à crítica, posso afirmar que sei a resposta!

    Parabéns, de novo, ao BLOG!

    Abs

  2. Bem, eu ainda tenho uma caixa cheia de superinteressantes antigas em sao paulo… tentei doar pro Centro Cultural, mas doar livros e revistas é quase mais dificil do que doar orgaos ! aparentemente ninguem os quer, ou pelo menos tem muita preguica… tive que carregar 5 quilos de livros de arte do meu pai, depois que ele morreu, para o Centro Lazar Segall, para que eles se dignassem a pegar um livro…

  3. Esqueci de fazer comentários sobre o item 8:

    “Se a astrologia é um conhecimento “sério”, como é que existem tantas linhas incompatíveis ? Depois de tantos séculos era de se esperar que houvesse uma confluência.”

    Qual o problema das diversas linhas? Isso pode tornar uma linha menos séria e outra mais e tudo depende do ponto de vista! E, cá entre nós, a relação séria e confluente é uma falácia sem tamanho, já que uma coisa não tem nada haver com a outra! A diversidade, nesse caso, deixou de ser séria e cabaou de tornar-se uma piada!

    Tenha dó… e olha que sou um cara cético!

    Um dia qqer, põe aí aquelas constatações anti-astrologia do projeto ockhan, discutido na comunidade do chiliquento…

  4. Saiu sim… como disse, nao lembro tudo ipsis literis, mas se a memória nao falha, era mais ou menos isso mesmo. Pelo menos acho que naquela época era coerente com a proposta da revista… Acho muito pior hoje em dia com “a ciencia prova a existencia de Deus ?”, “auto ajuda que funciona”, “a cura pela fé”, “a ciencia do codigo da vinci”, “a ciencia de harry potter”, etc, etc, etc

  5. 1. eu não acredito em “influencia” magnética dos astros. eu sigo o clichê conceito de sincronicidade.
    relação entre fenômenos naturais e organismos.
    os alquimistas de tempos remotos consideravam que o planeta marte tem a mesma quintessência do elemento ferro. eles estão portanto sincronizados, mas marte não influencia o ferro nem vice-versa.

    2 e 3. ambas perguntam sobre o elemento “distância”.
    satélites não são naturais, mas mesmo assim, não estão fora do conceito de sincronicidade. aliás, nada está.

    4. eu considero a primeira respiração do bebê, como a maioria dos astrólogos.

    5. não… ele estaria respirando e se alimentando por sí mesmo.

    6. a astrologia é tropical, não sideral. ela tem como referencia a entrada do sol no ponto vernal da terra e não em amontoados de estrelas (constelações) que tem tamanhos desiguais e se sobrepõe uns sobre outros.

    8. existem sistemas de casas que corrigem isso. eu vi mapas de pessoas nascidas ao norte, as casas ficam bem grades só isso.

    9. a loucura esta mais próxima que vocês imaginam… o que separa um cidadão qualquer de um assassino é muito tênue. 😉

  6. vejo a astrologia como uma forma de entender a natureza e o que faz parte dela (isso inclui a mim mesmo, obviamente). por isso tarot, runas, buzios e etc, funcionam e são usados até hoje, pelo conceito [jungiano? jung é leonino de um dia antes de mim :-)] S-I-N-C-R-O-N-I-C-I-D-A-D-E.

    antes de mais nada, adorei esse artigo. apesar das criticas a astrologias serem feitas por quem entendo muito por cima do assunto.
    seu site é muito bom, vou passar aqui + vezes!

  7. Obrigado Frank
    Nao uso muito o conceito de sincronicidade, por ser fora da astrologia, prefiro a simplicidade do hermetismo: “as above, so below”

  8. Yuzuru, acho que há um argumento adequado… por Tomás de Aquino.

    “DE JUDICIIS ASTRORUM

    (SOBRE OS JUÍZOS ASTROLÓGICOS)

    SANTO TOMÁS DE AQUINO

    1.

    Do tema investigado

    Dado que me pediste que te escrevesse sobre a licitude do uso dos conhecimentos sobre os astros, querendo satisfazer teu pedido, procurei escrever-te sobre aquelas coisas que nos são transmitidas pelos doutores sagrados.

    1.

    Do que é lícito

    A) Princípio
    Em primeiro lugar, é necessário que tu saibas que a força dos corpos celestes produz mudanças nos corpos inferiores. Com efeito, diz Agostinho no livro V Sobre a cidade de Deus: “Pode-se dizer, nem sempre nesciamente, que certos hálitos astrais têm eficácia quanto às diferenças dos corpos” [1].

    B) Aplicação do princípio

    E por isso, se alguém se serve do juízo dos astros para conhecer efeitos corporais, por exemplo, a ocorrência de tempestades ou de tempo bom, a saúde ou doença dos corpos, a abundância ou a esterilidade das colheitas e outras coisas que dependem de causas naturais cognoscíveis, não há nisso pecado, pois todos os homens são obrigados a nisso submeter-se aos astros. O agricultor só pode semear ou colher prudentemente se se assegurar dos movimentos do sol; os marinheiros evitam as navegações na lua cheia (plenilunium) ou durante o eclipse da lua; os médicos, no que tange às doenças, observam os dias críticos [2], que são determinados segundo o curso do sol e da lua.”

    Claro que o juizo dele sobre outros aspectos da pratica astrológica não são exatamente “benevolentes”.

    Mas o meu ponto é: se corpos afetam corpos e que nossa personalidade depende de nossa constituição biológica, poderiamos assim ter uma explicação para a influência – indireta – dos astros sobre a personalidade humana.

    Devo confesar que este argumento não é meu; o ví uma vez em uma site brasileiro (o qual não me recordo agora)

    O que acha?

  9. Como é que uma revista destas, ainda com o direito de ser céptica em relação a astrologia, diz coisas tão, mas tão disparatadas???

  10. 5. “Se o útero “protege” a criança da influência astrológica, seria possível proteger um adulto dessas influências usando um grande pedaço de bife?

    😀

    Pelos 7 planetas…Dá vontade é de rir!

  11. Olá,
    Um dia fui assinante da SI, desde o número 1 da revista, até que acabei cancelando, por conta da queda na qualidade.
    A propósito do artigo sobre astrologia, é uma cópia das tais 10 perguntas “constrangedoras” a se fazer a um astrólogo, do astrônomo e professor americano Andrew Fraknoi. Essa lenga-lenga é velha e, numa rápida busca, encontrei o assunto debatido e respondido (em inglês) em um website pró-astrologia.

    http://www.astroroom.com/astronomy-astrology.html

    A propósito, cheguei a este ótimo blog justamente ao procurar por esse assunto específico, para figurar em um pequeno trabalho que estou preparando.

    Um abraço,
    Marcos

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