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“A lua em seu signo põe as mudanças em foco. Faça uma mudança (fuga) significativa. Tente sair mais.”

O nome Philadelphia tem grandes conotações para os americanos, relativas às questões de liberdade, direitos humanos, etc. Por isso o nome do filme sobre aids com o Tom Hanks. E foi nessa cidade que a polícia começou a fechar a série de lojinhas que os americanos chamam de fortune telling – leitura da sorte. Aparentemente os astrólogos, numerologos e quetais não foram prejudicados ainda.

Na verdade foi um daqueles ímpetos que as forças públicas sofrem ocasionalmente de pôr em prática leis que eles mesmo tinham esquecido: no caso a obscura lei em questão tem mais de 30 anos e proíbe como charlatanismo todas as práticas de ler o futuro:

Uma pessoa é culpada de delito menor em terceiro grau se ela finge, por própositos de ganho ou lucro, conseguir ler a sorte ou prever eventos futuros, seja através de cartas, moedas, a inspeção de cabeças ou mãos de uma pessoa, ou por sua idade, ou através da consulta do movimento dos corpos celestes, ou por qualquer outra maneira…

Várias dessas legislações são razoavelmente obsoletas, tanto em linguajar quanto em finalidade, mas tem um papel interessante na cultura anglo-saxônica, baseada muito em medos de bruxaria, tábuas ouija, etc. Mas esses medos característicos dos gringos são importantes para entender o nascimento da astrologia psicológica do século 20.

Astrologia e Legitimação Científica

O astrólogo tradicional Christopher Warnock aproveitou em um email para tirar sarro dos nossos amigos new age, que acham que a astrologia está “provada” pela física quantica, a teoria das cordas, os “memes” ou qualquer outra teoria física mal compreendida: “Oh, é claro que a astrologia está prestes a ser reconhecida cientificamente, e em pouco tempo milhares de astrólogos com PHD serão contratados por companhias de seguro e multinacionais… sim, claro(…) Na época de Roma, fazer o mapa astral do Imperador era punível com a morte. Você teria a CIA e todo esse povo divertido batendo na sua porta se eles achassem por um instante que astrologia funciona.”

O fato é que a sociedade moderna é baseada numa estrutura de legitimação científica. Toda profissão universitária é garantizada por uma área “científica” que a legitima, mesmo disciplinas picaretas como administração, propaganda e turismo querem ser científicas. E se a ciência não pode explicar alguma coisa, ela por definição não pode existir.

É uma lição a ser aprendida pelo povo da “mecânica quântica explica” ou do povo da Constelar, que acredita que com “escritos acadêmicos”, citando pessoas que não tem relevância no pensamento astrológico, como Vittgestein, estamos a um passo da legitimidade universitária. Não, não estamos (e se Deus quiser, nunca estaremos, não quero a CIA batendo na minha porta).

Astrólogos e Tribunais

Durante o século 20, alguns astrólogos modernos famosos tiveram seu dia nos tribunais, e isso acabou moldando a cara da astrologia moderna. Alan Leo, Zadkiel e Evangeline Adans são alguns dos nomes. Alan Leo, por exemplo, apesar de ser dono de um negócio, foi processado por um estatuto originalmente criado para combater a vadiagem.

Quais são as defesas mais comuns da “classe astrológica” contra esse estilo de processo, já que o mundo científico tem a última palavra sobre o que é “verdadeiro” ou não ?

A primeira e mais importante é a defesa de Alan Leo, que moldou toda a astrologia que conhecemos hoje: “eu não prevejo o futuro, eu apenas analiso tendências”. Sob a influência da acusação, Alan Leo parou com qualquer forma astrológica que pudesse ser acusada de “previsão do futuro”, concentrando-se na visão do mapa astral como um constructo puramente psicológico. Assim nasceram as astrologias psicológicas, kármicas, etc, que nunca falam sobre o futuro, apenas sobre o passado.

Uma alternativa interessante para essa defesa seria a proposta de Tom Callaham de argumentar que se a astrologia deve ser proibida por “tentar prever o futuro” o mesmo regulamento deveria ser aplicado de forma democrática a meteorólogos, “analistas financeiros”, “analistas políticos”, e todo o povo que ganha a vida indo para a televisão dar chutes que raramente se realizam.

Outras defesas são obviamente a liberdade de expressão. Christopher Warnock cita o caso da Spiritual Psychic Science Church of Truth Inc. v. City of Azusa: “se uma pessoa crê poder ver o futuro, ela não está agindo de má fé, e sim apenas transmitindo suas opiniões para outras pessoas, coisa que, no importa o quão questionáveis, é um direito protegido pela constituição”.

É claro que sempre resta a última defesa de que a astrologia funciona. Mas esse tipo de defesa depende muito mais da simpatia do Juiz do que qualquer fator legal ou científico.

E no Brasil ?

No Brasil, o buraco é mais embaixo. Como vários devem saber, Getúlio Vargas, que tinha ideologias semi-fascistas, criou um estado de “semi bem estar social”, com a criação do sistema de Leis do Trabalho e de Segurança Social, que agora está a beira de ser destruído, como está sendo em outros países do mundo. Aqui em Colômbia por exemplo, qualquer forma de contrato é permitido, depende de quanta fome você está para assinar ele.

Mas obviamente tio Getúlio não era bobo, e em contra parte ele fez um grande sistema de modo que toda a estrutura sindical e trabalhista só funcionasse sob a asa do Estado. A justiça do trabalho é a última palavra em todos os problemas, centralizando as decisões. E ele também fragmentou a base representativa, de modo que em cada município pode haver um sindicato “local” com absolutamente nenhuma base de poder.

Quem conhece o resultado sabe bem o que estou falando… seja em sindicato, junta profissional, conselho regional de qualquer profissão, você vê sempre a mesma corja parasitária ganhando dinheiro fácil e se perpetuando… outra coisa que você sempre verá é um conselho brigando com outro pelo dinheiro, status ou poder. Não cito nomes, mas dê uma busca no google sobre “astrólogo” e “profissional” e logo verá o que quero dizer.

Uma curiosidade é que existem dois projetos de lei, quase idênticos, na câmara e no senado (você pode entrar em http://www2.camara.gov.br/proposicoes e digitar o número 6748 e o ano 2002). Na Classificação Brasileira de Ocupações estamos sob o número 5167-05 – astrólogos e cosmoanalistas.

Sou extremamente contra esse tipo de legislação… todos os motivos levariam uns quinze artigos, mas o mais óbvio é também o mais claro… é a eterna luta entre os que querem entrar e os que não querem sair.

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Comments

  1. Yuzuruuu! Hello! Tô com torcicolo, meio ocupada há várias semanas Passei aqui pra te dizer que adicionei vossa pessoa no meu “O”kuiti” 😉 Rodolfo tá lá também, né?

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