Resumo
Nesse Bebendo na Fonte vemos o trabalho de Mashallah, mas na verdade compilado por Ibn Harabi algumas (décadas?) depois. A teoria de Mashallah das Grandes Conjunções é parecida com a de Abu Mashar. Eles pegavam o ano da Grande Conjunção de Júpiter e saturno – mas como é impossível calcular um ascendente, era usado a carta do ingresso solar em 0 áries anterior a GC. O local é desconhecido. Nesse capítulo Mashallah fala sobre a data mitológica do Dilúvio.

De A Astrologia Histórica de Mashallah – Tradução de Kennedy e Pingree.

A primeira das conjunções (antes do Dilúvio, na triplicidade de água) foi em 1° escorpião e sua duração foi de 19 anos e 10 meses e o mapa da entra do sol em áries daquele ano, anterior à grande conjunção, de acordo com Mashallah está na no horóscopo I (3380 aC):

Nenhum planeta exceto Júpiter pode ser o guardião do ano porque:

  • ele é o senhor do ascendente
  • senhor da triplicidade do ascendente é o sol que confere poder a júpiter (sol faz um trígono distante com júpiter – mas o importante nessa doutrina era que o aspecto completasse) por oposição
  • e recebe poder de vênus (quem recebe? Editor fala júpiter, que claramente não recebe aspecto) porque vênus está exaltada e é dispositora da lua
  • a lua está na 6° casa e saturno na 12°, retrógrado, e júpiter e marte no 11° signo, mas na casa 10 por divisão, ambos retrógrados. A retrogradação dos três planetas, na transferência de triplicidade, no meio do céu em um signo humano, mostra a morte da terra na segunda conjunção a partir desse trânsito porque o ascendente em sagitário é de natureza dual, então procure pela segunda Grande Conjunção da sequência.

E se a grande conjunção falar seja sobre milagres, ou morte, ou nascimentos de profetas, veja o ascendente da GC que muda de triplicidade. E se for dual, especialmente (?) Sagitário, a promessa não acontecerá nessa GC, mas na seguinte. Se o signo for fixo ou móvel (cardinal) então acontecerá nessa primeira GC mesmo.

Se a lua , sendo o luminar do séquito noturno nesse ano, estivesse corrompida, nada teria restado no mundo, mas a lua estando salva indicou crescimento e restauração após a morte. A ocorrência da segunda GC do trânsito que indicou o dilúvio foi em Câncer a 3°, e o dilúvio aconteceu após 5 meses. (horóscopo 2).

Horóscopo 2 – ano 3360 aC – Nessa segunda GC em água eu descubro que Júpiter era o melhor planeta para ser guardião do ano, porque é senhor do ascendente e seus termos, e da triplicidade do ascendente, e vênus, senhora da exaltação do ascendente aspecta júpiter (novamente um aspecto distante, júpiter está em 14 graus e vênus em 1) e júpiter está no ângulo da terra (casa 4), em um signo que não combina com ele (exílio?), junto com saturno.

Se ele não estivesse com saturno no ângulo da terra, e o senhor da casa 4 (mercúrio) não estivesse no ascendente, isso indicaria que a morte do dilúvio viria no mesmo ano no quinto mês, na aparição oriental de Saturno (editor – saturno em gêmeos reaparece depois de combusto, ou seja quando o sol chegar mais ou menos em câncer, o que daria uns 4 meses).

Agora Júpiter está em câncer (no quinto mês) e e se não fosse pela posição de júpiter (na casa 4?), e o dispositor de júpiter, a lua, senhora noturna da carta e nos ângulos da carta, o evento teria acontecido no quinto ano e não no quinto mês. Mas como estava angular o evento foi apressado, portanto apenas cinco meses no primeiro ano.

E que isso seja entendido e saiba que se os planetas superiores, em ordem acima do sol (marte, júpiter e saturno) estiverem retrógrados na carta da transferência das grandes conjunções de uma triplicidade para outra (mudança de elemento), ou então na carta do ingresso solar de uma das Grandes Conjunções individuais, isso indica morte por desastres celestiais. Mas se os dois planetas inferiores ao sol estiverem retrógrados (vênus e mercúrio), isso indica causas terrestres (menores?). Mas se todos estiverem retrógrados os desastres serão celestiais e terrestres, então cuidado.

Se os planetas retrógrados estiverem em signos humanos, espirituais, que são Gêmeos e Virgem, Libra, a primeira metade de sagitário (a segunda metade é bestial) e Aquário, os desastres envolvem pessoas. Mas em signos animais envolverão os animais representados nos singos. Então para saber o tipo de desgraça, veja na mudança de triplicidade (elemento) das Grandes Conjunções , em que signo acontece* – se for um signo de fogo (incêndios imagino), a desgraça é relacionada a fogo, em signos de água, relacionada com água (maremotos, chuvas, imagino), nos signos de ar a desgraça é relativa a ventos, e nos signos de terra será de deslizamentos, terremotos e quedas de rochas.

*ou possivelmente “veja em que signo está a parte da Conjunção” – mas não especifica que parte seria essa

E as indicações que acontecem na GC que muda de triplicidade mostram as coisas importantes que ocorrerão nas outras Conjunções; E o que indicam as Grandes Conjunções sucedentes mostra o que acontecerá nos anos; e o que acontece na carta da transferência do ano no ano do mundo (ingresso solar em áries) indica o que acontecerá nos meses. E cada estágio é mais (hierarquicamente inferior) ao que o precedeu.

A profecia do dilúvio - TEMPO PROFÉTICO

Notas

O que Mashallah está fazendo aqui é parte ilustração do método e parte validação filosófica/teológica da astrologia da época, analisando a data considerada pelos árabes como a do Dilúvio.
De acordo com Abu Mashar, o grande período (dawr) de 360 anos começa no dilúvio, regido por Saturno e por Câncer – essa combinação foi escolhida para simbolizar “desastre” e “água” basicamente.
Mas daí Mashallah também pega a GC anterior em que ocorre a mudança de triplicidade (elemento) de ar para água (de novo!). Cada GC dura 20 anos, mas Mashallah argumenta que como o ascendente estava em um signo dual, aconteceria na segunda GC do período. Então é preciso levantar a carta da segunda GC e dentro dela ver quando acontece o dilúvio.

Note que há poucos argumentos contra ou a favor do dilúvio – ele não se preocupa muito em justificar – além da dawr e período de água mencionados, ele se concentra mais em que os 3 superiores, marte, júpiter e saturno estarem retrógrados – o que é importante mas não tão incomum. O fato do senhor da carta ser júpiter também nunca parece contar como fator positivo ou protetor.

Tsunami de 2004

Coloquei o local para jakarta, o que por si já é discutível porque não saberíamos com antecedência para procurar lá. Na GC de 1980, onde houve a mudança de triplicidade da Terra para o Ar, Saturno está em virgem na 12 (Também estava em vigor a dawr de 360 anos de saturno em virgem).

Na carta do ingresso solar da GC acima notamos que o ascendente está em libra – a explicação de Mashallah de que deveríamos usar o próximo ciclo de 20 anos apenas se o ascendente for dual não funciona aqui – teríamos então que procurar por outro local onde o ascendente mudasse pra virgem, o que já seria excesso de “retificação”. O grau da conjunção foi em 9 Libra. O Lorde da Carta para mim seria vênus, regente do ascendente e com o luminar noturno. Para mim o único sinal mais preocupante seria o senhor da 4, terra, desastres que afetam o país, na casa 12, que também aflige a lua por aspecto.

Na carta do ingresso solar da GC de 2000, Senhor da 4 marte está em áries. Mashallah profectava maléficos para o ascendente e ascendente para maléficos – marte para o ascendente realmente dá o período de 2004. Na data do tsunami, Saturno estava formando quadratura em câncer com marte desse ingresso (não poderíamos fazer isso com o ingresso de um ano qualquer, porque saturno é tão lento, mas essas cartas têm duração de 20 anos pelo menos).

Progredir o ascendente não faria sentido para um evento multinacional… mas podemos dirigir o grau da GC em 9 Libra. 24 anos dá uns 3 de escorpião. Ele acabou de formar aspecto com o Júpiter da GC de 1980. No ingresso 2004 Saturno em 6 câncer estava em trígono ao grau progredido e também ao Júpiter da GC 2000.

Notas e conclusões

Apesar das cartas de mashallah não poderem ser usadas de forma ingênua (lembrer que astrologia tradicional NÂO é leitura bíblica) os princípios ajudam a interpretar eventos de longo prazo. Na maior parte dos textos que temos de Mashallah, ele usa apenas o ingresso solar, que dá uma impressão para o ano. A maior parte das interpretações é difícil, por vários fatores, como por exemplo a posição dos planetas ser a mesma no mundo todo, ou que os trânsitos dos planetas mais lentos não afetarem nada.
Esse é o único texto que conheço que mostra que mesmo Mashallah tinha uma visão dos eventos principais de mais longo prazo

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