Um fator engraçado, que já tratei no tema da escola astrológica “Jack o estripador”, é que as pessoas, ao invés de tentar integrar o mapa, tentam cortá-lo em pedacinhos.

A pergunta de astrologia mais habitual que vejo sao coisas como “o que significa meu plutao em libra na casa 2 ?”

A segunda mais habitual é “como eu determino ciúme (ou algo parecido) na carta astral ?”

Bem, para início de conversa, Plutao é geracional, ou seja, muuuuuito lento. Eu tenho Plutao em Libra, mas também tem toda a torcida do corinthians… na verdade todo mundo que nasceu entre 1970 e 1982, acredito que seja a geraçao Coca-Cola, é caracterizada por esse posicionamento. Plutao na casa 2 é mais especifico, verdade, 1 em 12 de todas essas pessoas terá plutao na casa 2, apenas alguns bilhoes de pessoas.

Mas o problema essencial nao é esse. Podemos substituir por qualquer planeta, por exemplo a rapidíssima lua, e o problema continua. “Qual planeta mostra minha personalidade ?”

A resposta simples é “nenhum isoladamente”

A resposta mais completa mas falsa é “temos que considerar o mapa como um todo”

Como assim ? Se você leu o tópico sobre astrologia Jack o estripador, pode char que estou me contradizendo… Entao deixa eu me explicar melhor: o mapa fala sobre absolutamente TODA A VIDA da pessoa. Seu trabalho, sua mae, seu pai, seus filhos, seus maridos/esposas, amigos, etc. Ou seja, muitas das posiçoes do mapa nao tem absolutamente nenhuma relevância para a vida do nativo. Para quem um planeta fale sobre esse aspecto tao especifico, a “personalidade” em geral ele tem que ter relaçao com o Ascendente, a lua ou mercúrio.

O que é a personalidade ?

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Infelizmente a confusao nao termina aí. O que é a personalidade ? Podemos buscar a palavra a etimologia persona, etc, mas basicamente a personalidade é a maneira como a pessoa atua, numa dada cultura, em situaçoes cotidianas. Utilizamos para definir a personalidade da pessoa palavras como “aberto”, “chato”, “ranzinza”, “agressivo”, “divertido”. Somente se concentrando nos adjetivos que tem mais ligaçao com a personalidade, Cattell e outros selecionaram na lingua inglesa mais de 17.000 palavras, reduzindo depois para 2000 palavras principais.

Vamos pensar em um momento sobre isso. A partir de um mapa astral, para responder àquele famoso “fale sobre mim”, temos milhares de denominaçoes possíveis, muitas delas sinônimas.

Os psicológos positivistas do século passado também tiveram esse problema e tentaram fazer instrumentos “objetivos” para classificar as pessoas. Os primeiros tinham apenas interesse em classificar doenças, e muitos só tinham “valor de face”: “você se sente muito angustiado todo o tempo?”

Com o tempo e o surgimento da análise fatorial, se desenvolveram dezenas de testes, como o MBTI, o PF16, o Big 5, etc. Cada um divide o ser humano em categorias arbitrárias, mas com semelhanças entre os testes. Assim, aos poucos se desenvolveu uma diferença entre os traços constituintes ou “profundos” e os traços mais contextuais ou “superficiais”.

Para quem estudou Platao ou Chomsky o conceito deve ser fácil, mas para o restante de nós, a maneira mais fácil é pensar em quais conceitos sao os melhores e mais básico para descrever uma pessoa, no maior número de situaçoes possíveis, ou seja, quando você quer descrever sua “essência” ? Você descreveria seu colega de trabalho com palavras como “agressivo, competitivo, emotivo”, ou com palavras como “ciumento, psiquico, mal compreendido”?

Espero que tenha captado o conceito. Palavras como “extrovertido”, apesar de ambiguas, descrevem uma pessoa numa série muito maior de situaçoes do que a palavra “ciumento”, ou “bom gerente”. Em geral podemos definir esses traçoes de superfície como funçao de traços profundos, como por exemplo…

ciume (depende de):

  • agressividade
  • possessividade
  • machismo
  • facilidade/dificuldade de comunicaçao
  • auto-estima
  • etc…

Se considerarmos o mapa astral como o “teste psicológico mais antigo do mundo” temos aqui o mesmo problema entre diferenciar entre o traço profundo e superficial. Ou seja, da próxima vez que perguntarem “onde está o ciúme no mapa?”, responda “em lugar nenhum”. A astrologia trata dos fenômenos essenciais, nao dos acidentais, relativos a situaçoes específicas ou puntuais.

O vocabulário atual está sempre inventando novas “pseudo-palavras” para classificar o ser humano. Mas é de responsabilidade do bom profissional, seja de educaçao, psicologia, administraçao ou astrologia, descartar essas modas tolas. Ou isso, ou passar os próximos anos tentando achar a “pró-atividade” e “a inteligencia emocional”, seja no mapa astral, seja no teste psicológico.

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Qual a marca astrológica para ser Punk ?

Comments

  1. This was a wonderful blog. I am often filled with frustration with the same type of myopic questions. The Natal chart alone is a beautifully woven tapestry that no one thread dominates. I find that the “Jack the Ripper” approach is often tried with relationship charts. If only it was that simple, I am sure the divorce rate would not be as high as it is. I see people making life decisions based off of “cook book” interpretations. That is like trying to paint a Van Gogh with a box of 8 crayons….. can you tell this subject is a pet peeve of mine? 🙂

    1. Yes, apparently it is 🙂
      Since I wrote that article (a lot of time ago) i can only say that the “jack the ripper” approach has only grown.
      And also it has become more presumptious

  2. Bem uma categoria de análise do ser humano que considero mais acertiva é a “visão de mundo”. Há pessoas que orientam toda sua vida pelo valor do trabalho, outras menos práticas se voltam pra interesses como artes ou ciencia,há os filosóficos céticos, os espiritualistas…Enfim essas caracteristicas descrevem melhor a visão de mundo do que a personalidade e o temperamento,não acha?Acho que as descrições dos signos que vejo por aí estão mais voltadas para tal categoria? Estou certo em pensar assim?

    1. Para a astrologia tradicional, os signos apenas qualificam, eles nao sao nada.
      As descricoes dos signos que estao por ai vem da cabeça de quem escreve a descricao, entao nao me comprometo. Se cada um faz o que quer, que seja, mas nao peçam que eu me preocupe com isso ! 🙂

      Na astrologia tradicional, nao trabalhamos com categorias retiradas da psicologia pop: as categorias que sao trabalhadas sao o temperamento, a qualidade da mente, a moralidade, a visao de Deus e o caminho espiritual do sujeito.

      Como voce mesmo disse as pessoas vao se orientar na vida, espiritualmente, de maneiras diferentes. Mas nao vai haver nunca um planeta que diga isso ! Vamos consultar o almuten figuris da pessoa, a qualidade da sua mente, seu temperamento, etc, e só aí vamos ter conclusoes.

      O mapa é sempre um todo conclusivo, mas a parte menos importante desse todo, com certeza, sao os signos !

  3. Deixa eu ver se entendi: nao é possível ver a personalidade pelo mapa natal, mas as categorias q vc citou ( temperamento, a qualidade da mente, a moralidade, a visao de Deus e o caminho espiritual do sujeito ) estao no mapa, é isso? Fiquei na duvida. Agora outra teoria intuitiva minha (hehe) sem base nenhuma e tals mas da minha cuca mesmo era de q o ascendente seria o nosso ponto de vista do mundo. Nao sei o q vc acha disso, mas “na minha experiencia funciona” hehhehehhehe to brincando! xD

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